O Fale Por Eles, é um blog criado por alunos de Graduação do curso de letras da Universidade Federal de Minas Gerais voltado para a publicação de atividades/trabalhos feitos em sala de aula, portanto seu caráter é avaliativo. Seu conteúdo é direcionado a todo tipo de público, suas postagens de fácil entendimento e cores que facilitam a visualização.
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, cidade localizada no interior de Minas Gerais, ressalto com orgulho mais um grande escritor nascido em nosso receptivo estado. Estudou no Colégio Arnaldo em Belo Horizonte e em Nova Friburgo no Colégio Anchieta. Formou-se em farmácia e juntamente com amigos fundou “A Revista”, para divulgar o modernismo no Brasil.
Quanto aos críticos, em sua grande maioria concordam que as poesias de Drummond não se enquadram especificamente no modernismo. Alguns críticos justificam com textos de Drummond que remetem o leitor ao humor, outros justificam com textos que carregam um certo teor sensual.
O que importa dizer é que estamos diante de um poeta que é referência para muitos estudiosos, porque não dizer que suas idéias e palavras ecoam no interior de muitos que o conheceram. Tentar enquadrar, conceituar ou cientificar as palavras do autor em questão, é o mesmo que desacreditar da arte, calar a boca do pensamento, enjaular as emoções e a poesia. A grandeza da arte e o segredo da beleza de seus poemas estão encarnados em cada letra da palavra liberdade, sem convenções, com regras próprias, estamos diante de um poeta que lançou vozes, fez-se único e enobreceu a cultura brasileira.
Se tentarmos relatar a essência de seus textos ficar-se-á a falar do universo, em outras palavras, Drummond em seus poemas abrange o social, o emocional, a infância, o amor, a desilusão, a morte, a política. Não há como simplificar, falar de seus textos só pode ser profundo na abstração.
Indústria
E viva o governo: deu
dinheiro para montar
a forja.
Que faz a forja? Espingardas
e vende para o governo.
Os soldados de espingarda
foram prender criminoso
foram fazer eleição
foram caçar passarinho
foram dar tiros a esmo
e viva o governo e viva
nossa indústria matadeira.
Primeira Eleição
Marechal Hermes
e Rui Barbosa
lá vêm guerreando
pela montanha.
Olha a trovoada!
A pena, a espada,
qual perde, ganha?
E na sacada
o brado rouco,
o retintim,
a espora, a hora
do boletim.
Toda a cidade
Se apaixonando.
Mas das mulheres
O voto, quando?
Menino vota
no faz-de-conta.
Ruísta, hermista,
sangue na crista!
Em “Indústria” percebe-se uma crítica clara ao governo, o autor tenta fazer uma comparação da indústria ao sistema político, interessante pensar que o capitalismo traduz-se não só em um sistema econômico, mas contaminou todo um sistema político, a vida social e cultural, os desejos e ambições, é muito atual a citada relação pois o autor de certa forma já decifrava o que hoje é a nossa realidade. Em “Primeira Eleição” o que chama atenção é o trecho, “Mas das mulheres, o voto quando?”. O autor questiona o fato de que na época as mulheres não podiam votar, é surpreendente perceber o quanto Drummond foi contemporâneo em suas idéias, pessoa que se interessava pela política.
Liquidação
A casa foi vendida com todas as lembranças
todos os móveis todos os pesadelos
todos os pecados cometidos ou em via de cometer
a casa foi vendida com seu bater de portas
com seu vento encanado sua vista do mundo
seus imponderáveis
por vinte, vinte contos.
Saudoso em suas poesias, que me parecem obedecer a um tempo específico do poeta em questão, o leitor sentirá algo do passado íntimo de Drummond. Como não associar as palavras acima a um lar antigo? Como não associarmos às nossas experiências vividas em determinados ambientes? Ao nosso lar? Relembrar a casa que vivemos grande parte da nossa vida. O lugar que relembra e faz sentir, o espaço que conta uma história, ou melhor, várias histórias. Drummond conseguiu fundir o físico e o emocional, casa misturado com lembrança, e além de fundir a casa com suas lembranças pintou as letras desta mistura, representou no papel casa, lembrança e emoção.
A Puta
Quero conhecer a puta.
A puta da cidade. A única.
A fornecedora.
na Rua de Baixo
onde é proibido passar.
Onde o ar é vidro ardendo
e labaredas torram a língua
de quem disser: Eu quero a puta
quero a puta quero a puta.
Ela arreganha dentes largos
de longe. Na mata do cabelo
se abre toda, chupante
boca de mina amanteigada
quente. A puta quente.
É preciso crescer
esta noite a noite inteira sem parar
de crescer e querer
a puta que não sabe
o gosto do desejo do menino
o gosto do menino
que nem o menino
sabe, e quer saber, querendo a puta.
Como já descrito no início deste texto, falar de Drummond é falar de todo um universo. A lascívia, o desejo e o pecado não poderiam estar nos poemas de Drummond? Para alguns puritanos nunca. Mas a lógica nos prova o
contrário, como falar de um universo, sem falar nos desejos da carne? Como falar de um universo, sem falar no que o corpo pede? Como negar a verdade? A realidade deste corpo limitado? Seria o mesmo que banir o ser humano de uma vez por todas da existência.
Carlos Drummond de Andrade, não se pode querer conceituá-lo, arte não se explica, vê, sente, chora e ri. Sua poesia é real, fala de mim, dele, daquele, representa o amor, a voz dos que consumiram a coragem e a si mesmos, da casa aos objetos da casa, da morte, foi além tentou mudar as leis do tempo, escreveu em tempos do ontem, como se escrevesse nos dias atuais, a universalidade de Drummond, poeta que deve ser lido e lembrado, não, guardado, as lembranças podem se perder.
Bibliografia Consultada:
ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética. 42. Ed. Rio de Janeiro: Record, 1999. 280p.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Boitempo e a falta que ama. 2. Ed. Rio de Janeiro: Sabiá, 1973. 192p.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia completa. 1. Ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002. 1599p.
COUY, Venus Brasileira. Memória em miniatura. Revista Eletrônica Desenredos, ano IV, n. 3, jun. 2012. Disponível em: <http://www.desenredos.com.br>. Acesso em 12 jun. 2012.
JÚNIOR, Arnaldo Nogueira. Resumo biográfico e bibliográfico de Carlos Drummond de Andrade. Projeto Releituras, jun. 2012. Disponível em: http://www.releituras.com/drummond_bio.asp. Acesso em 11 jun. 2012.
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